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Manifesto São Leopoldo  

Em memória do P. Valdir Frank (1954 – 2016)

             “Buscai o bem e não o mal, para que vivais”. (Amós 5.14)

Vivemos tempos difíceis em nosso país. A democracia está ameaçada. Recentemente o país passou por uma ruptura democrática, as instituições políticas estão fragilizadas e desacreditadas e a participação popular direta é desprezada e reprimida. Vemos a desigualdade social, a pobreza crescendo novamente, enquanto a educação e a saúde pública vêm sendo ameaçadas. A previdência pública e a CLT estão em debate, enquanto a retirada de direitos é explicitamente defendida pelo atual governo, em nome de um ajuste econômico ameaçador. O agronegócio segue pautando a defesa do latifúndio e o uso exacerbado de agrotóxicos ameaça a vida de milhares de pessoas e traz danos irreparáveis ao meio ambiente. Os povos indígenas são cada vez menos respeitados, enquanto seus direitos culturais e territoriais são crescentemente prejudicados. A violência contra mulheres e o assassinato de jovens têm classe e cor – pessoas empobrecidas, negras e negros. A IECLB é parte da sociedade, de tal modo que também na base das comunidades as dores e os sofrimentos causados por violências e desigualdades se fazem sentir das mais diversas formas. Essa realidade questiona a nossa fé e o nosso papel público. Por isto – como Igreja alicerçada no Evangelho da graça e do amor libertador – precisamos retomar a nossa tradição recente de denunciarmos todo e qualquer retrocesso democrático que implique perda de direitos políticos e sociais. Só assim teremos credibilidade pública para anunciarmos esperança em meio a esses tempos sombrios no Brasil e no mundo.

Nesse contexto complicado, nos encontramos em São Leopoldo, no dia 28 de novembro de 2016, na Faculdades EST, convidadas pela Pastoral Popular Luterana, com o apoio da Fundação Luterana de Diaconia, pessoas oriundas de distintas comunidades e setores da IECLB, para refletirmos sobre este momento e o nosso papel como pessoas de fé, cidadãs comprometidas com a justiça, a dignidade humana e de toda a criação. Escutamos as falas da Pastora e professora de antropologia Lori Altmann e dos ex-Pastores Presidentes Gottfried Brakemeier e Walter Altmann que fizeram um resgate da presença e do papel público da IECLB nas últimas décadas.

Evidenciou-se, mais uma vez, que política é luta pela vida, pela liberdade da pólis. Entendemos que a participação política é diaconia transformadora, é uma ação e um serviço cristão para a transformação da sociedade. Política não pode ser reduzida à política partidária. O amplo diálogo democrático é o único que garante o exercício da cidadania, como prevê a Constituição Cidadã de 1988. Como pessoas crentes, de confissão luterana, concordamos que não cabe a uma igreja ou às pessoas que professam a fé cristã propor soluções para os graves problemas políticos do país. O que lhes cabe, sim, a partir do Evangelho, é apoiar, fomentar e insistir nas lutas das pessoas e de todos os movimentos sociais que buscam a justiça, a vida digna e o bem do povo. Como escreveu a Presidenta da Conselho da Igreja, Dra. Ema Marta Dunck Cintra, em seu relatório ao XXX Concílio da Igreja realizado em Brusque/SC, em outubro passado:

“Precisamos, mais do que nunca, por meio do Evangelho, humanizar homens e mulheres coisificados e somente valorizados naquilo que se refere ao lucro econômico que podem trazer à sociedade. Precisa-se reafirmar […] a confiabilidade na palavra da nossa IECLB, afirmada no Evangelho de Jesus cristo, que pregou a paz, o amor, a solidariedade e a dignidade de todas as pessoas e para todas as pessoas. Esta deve ser a nossa luta: promover a justiça social e a dignidade para todos os filhos e as filhas de Deus”.

As distintas formas de violência e exclusão afetam a vida das pessoas e a própria democracia. A polarização e a falta de diálogo na sociedade, de modo geral, mas também na IECLB, questiona nossa vida comunitária e desafia-nos conjuntamente para uma reflexão mais amadurecida e de muita escuta mútua. Isto nos convoca para momentos de conversa e construção coletiva, para que possamos encontrar, junto com nossas comunidades e grupos organizados, caminhos de esperança. Só assim será possível avançar em comunhão solidária. Reiteramos que o diálogo construtivo, porém, necessita de mecanismos e processos que incluam todas as pessoas através de metodologias de aproximação e mediação entre propostas e grupos plurais.

De nosso debate franco e respeitoso, extraímos propostas para continuarmos nesta busca urgente e necessária:

  • Reafirmar o papel da igreja de Jesus na sua opção pelas pessoas empobrecidas e vulneráveis;
  • Animar pessoas e comunidades com palavras firmes e alentadoras diante das incertezas e sombras que se abatem sobre o nosso país;
  • Fortalecer por vários meios os valores democráticos da paz, da justiça e do cuidado com a vida das pessoas e do meio ambiente, criação do Deus vivo;
  • Priorizar na vida comunitária a relevância do cuidado com as fontes de água e a defesa da segurança alimentar para todas as pessoas;
  • Providenciar metodologias práticas para trabalhar com grupos de base na igreja as questões aqui levantadas, favorecendo o diálogo com todos os grupos interessados sem discriminar quem quer que seja;
  • Favorecer espaços específicos para a participação da juventude;
  • Reforçar a conexão entre a vida comunitária e a sociedade, de tal modo que as pessoas assumam no cotidiano suas responsabilidades como cidadãs e membros da igreja;
  • Incentivar a criatividade litúrgica e o uso de símbolos nas celebrações comunitárias, bem como uma espiritualidade dinâmica e aberta aos dons do Espírito de Cristo;
  • Incentivar o fortalecimento de uma rede de solidariedade na IECLB (PPL, FLD, CAPA, COMIN, CML, Fórum de Mulheres da IECLB, e outros setores);
  • Incentivar as propostas de educação popular (materiais pedagógicos, produção artística, teologia popular) em todos os âmbitos da igreja, que inclua crianças, adolescentes, jovens e pessoas adultas, nas comunidades e grupos de serviço;
  • Tomar consciência de que – no discipulado de Jesus – somos enviados ao mundo para ser sal da terra, luz do mundo e fermento transformador (Mateus 5.13s; 13.33).

Em solidariedade fraterna sorória, assinam

PPL – Pastoral Popular Luterana  e FLD – Fundação Luterana de Diaconia

São Leopoldo, 28 de novembro de 2016.

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Carta de Contagem

Nós, juventudes ecumênicas reunidas no Encontro Nacional “Desafios e possibilidades no cuidado da casa comum” realizado pela Rede Ecumênica da Juventude/REJU e pela Pastoral Popular Luterana/PPL vinculada a da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil/IECLB, entre os dias 12 a 16 de novembro de 2016, emContagem/MG, acreditamos que a oikumene deve expressar os encontros e a convivência entre as diferenças sociais, culturais e religiosas a fim de superar todas as formas de intolerância. Partilhamos, assim, nosso desejo e nossa luta por justiça, igualdade e dignidade a todasas pessoas que habitam essa casa comum tendo em vista a atual conjuntura em nosso país marcada pelo recrudescimento das vi
olações aos mais diversos direitos. Por conta disso, denunciamos:

  • Os casos de desrespeito às pessoas pertencentes às diversas manifestações religiosas e ataques aos seus lugares de culto que acometem principalmente as religiões de matrizes africanas e indígenas;
  • Grupos e setores cristãos que utilizam, de forma descontextualizada e sem diálogo com as diversidades humanas, valores religiosos e narrativas bíblicas para promover um fundamentalismo de cunho político que os permitem disputar e garantir seus lugares em espaços de poder em suas igrejas, na sociedade e nos legislativos e executivos;
  • Às violências contra a pluralidade de identidades de gêneros e sexuais  validadas por uma sociedade patriarcal, machista e misógina;
  • O golpe jurídico-parlamentar cujas decorrentes propostas visam à implementação de politicas motivadas pela sobreposição do interesse na expansão do lucro sobre a dignidade humana e que ameaçam os direitos sociais, humanos, trabalhistas, previdenciários conquistados pela população brasileira com a Constituição de 1988;
  • Às violações do direito à terra e ao território e à soberania alimentar e o genocídio dos povos indígenas, comunidades tradicionais e quilombolas, campesinos e povos das águas, dos campos e das florestas agenciadas pelos setores do agronegócio, grandes latifundiários e pelos grandes empreendimentos;
  • À PEC 55/2016 que propõe o congelamento por 20 anos nos investimentos do governo federal em diversas áreas e políticas sociais – educação, saúde, benefícios sociais, congelamento do salário mínimo – que atingem diretamente as camadas mais pobres da população brasileira;
  • À proposta de Reforma do Ensino Médio conduzida de forma verticalizada e não dialogada com os setores sociais interessados;
  • O Projeto de Lei denominado Escola sem Partido que tramita no legislativo e propõe que as educações básicas e universitárias deixem de ser pautadas pelo contraditório, pelas divergências de ideias, pela pluralidade e diversidade cultural e, o mais grave, pela laicidade do Estado;
  • A criminalização jurídica, política e midiática dos movimentos sociais e das ocupações nas escolas e nas universidades públicas que protestam de forma legítima e democrática contra as medidas propostas pelo governo Temer como a PEC 55/2016;
  • A impunidade do Grupo Samarco (Vale/BHP), do Governo do Estado de Minas Geral e do Governo Federal responsáveis pelo crime ambiental que matou pessoas e destruiu ecossistemas por completo na região do Vale do Rio Doce, evento que completa um ano;
  • O ataque sofrido pela Pastoral da Juventude da Diocese de Itabira/Coronel Fabriciano por grupos católicos que se opõem a perspectiva do diálogo inter-religioso, na ocasião do Dia Nacional da Juventude/DNJ, ocorrido na cidade de Timóteo/MG;
  • Os diversos casos de abuso sexual e de estupro de jovens, crianças e mulheres que atestam a validade da cultura do estupro em nossa sociedade;
  • A retomada de estereótipos sobre as mulheres e seus corpos para deslegitimar sua participação na política confinando-as novamente ao imaginário de belas, recatadas e do lar validando, assim, diversas formas de violência àquelas que ocupam espaços de decisão e de poder na sociedade;

Diante do nosso testemunho público e nossa prática ecumênica contra essas e tantas outras violências que comprometem uma casa comum de vida plena a todas as pessoas, estabelecemos para nossa agenda nacional no biênio 2017/2018 o “Estado laico e superação das intolerâncias” como questão articuladora dos eixos temáticos que pautarão nossas incidências políticas, a saber: Juventudes, Desenvolvimento e Justiça socioambiental; Juventudes, Sexualidades e Lutas feministas; Juventudes e Democratização da educação e Enfrentamento ao Racismo.

Assumimos assim, um lugar de resistência constante diante de formas homogêneas e fundamentalistas de entender e viver a espiritualidade no contexto atual. Esse lugar implica em disputas de sentidos e de práticas no campo político cotidiano. Também significa vivermos maneiras que evidenciem o amor e a justiça que são os imperativos que movem nossa fé plural e diversa e que alimentam nossa caminhada de luta.  Nessa caminhada conjunta nos reencantamos com novas utopias acreditando que as nossas espiritualidades dançantes transcendem os muros institucionais.

Contagem/MG, 23 de Novembro de 2016.
Rede Ecumênica da Juventude – REJU
Pastoral Popular Luterana –PPL

Apoio:
Fundo Ecumênico de Solidariedade, Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE), Fundação Luterana de Diaconia (FLD), Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, Minas Gerais, SOS Corpo.

Parceria:
Zwei Arts, Fernanda Scherer Fotografia e Vídeo

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Manifesto da Pastoral Popular Luterana Referente a PEC 241

Pois, assim diz o SENHOR: “Exercei o juízo e a justiça, e livrai o espoliado da mão do opressor; e não oprimais ao estrangeiro, nem ao órfão, nem à viúva; não façais violência, nem derrameis sangue inocente neste lugar” (Jr 22.3).

Estamos diante de um quadro em que vemos delimitado um ataque covarde às conquistas trabalhistas conquistadas a duras penas pela classe trabalhadora e pela população em geral. Sentimos que os direitos das pessoas cidadãs estão sendo usurpados com a desculpa de que a economia precisa crescer. Porém, sabemos que crescimento é algo relativo, se visto sob a ótica do povo trabalhador. Os movimentos populares estão sendo criminalizados e lideranças políticas de esquerda sendo perseguidas em nome de uma pretensa moralidade que não se comprova na prática. A judicialização da política ou a politização do judiciário colocam em risco a nossa já frágil democracia; abalada pelo golpe disfarçado em impeachment da presidenta da República, democraticamente eleita, Dilma Roussef. Este é o quadro atual em que a famigerada ideologia neoliberal mostra todas as suas garras e dentes. Diante desse cenário ficamos indignados com o pacote de maldades contra o povo chamado PEC 241 e, enquanto Pastoral Popular Luterana, protestamos contra o abuso de poder travestido em lei. Nisto, denunciamos a farsa dos argumentos para se legitimar a referida PEC: – Primeiro: diga-se que o Brasil tem reservas cambiais suficientes para enfrentar qualquer crise, sem exigir sacrifícios das pessoas e grupos mais pobres. Na contramão disto, a PEC congela os gastos com investimentos públicos, entre eles saúde e educação; além de reduzi-los drasticamente. – Segundo: o governo toma a opção de não arrecadar mais, deixando de taxar as grandes fortunas e cortando na carne dos trabalhadores. Só o imposto sobre grandes fortunas daria dinheiro de sobra para superar qualquer dificuldade e investir na máquina pública. Contudo, ao retirar e limitar o dinheiro de áreas essenciais para a população (como saúde e educação, etc.), esses recursos passam a ser destinados para pagar os juros extorsivos da dívida; privilegiando os banqueiros e favorecendo a usura que dá suporte às elites. – Terceiro: não há nenhum critério de justiça quando se opta em não cobrar as bilionárias sonegações de impostos, as grandes heranças que não são taxadas e não se arrecada sobre os juros extorsivos praticados pelos bancos. Não se pode falar em justiça social quando os que são mais vulneráveis têm que pagar as contas do luxo e da ostentação das elites dominantes.
– Quarto: é obrigação do governo investir em educação, saúde e assistência social. Aprovar uma Proposta de Emenda à Constituição que limite os gastos com itens essenciais à sobrevivência dos mais vulneráveis é um gesto covarde para continuar mantendo privilégios. Além de roubar as conquistas sociais alcançadas nos últimos tempos, garantidas por lei. – Quinto: a PEC 241 é não é apenas mais um elemento do golpe realizado pelas elites com o apoio da mídia e do judiciário. Ela coroa a estratégia de empobrecimento da população para gerar mão de obra barata por 20 anos; para que empresas lucrem em cima do povo. Quanto mais fragilizada estiver a população, mais subserviente será. Essa PEC está aliada à entrega do pré-sal, à reforma previdenciária e ao ataque contra os direitos trabalhistas. O objetivo é claro: tornar o povo dependente das migalhas oferecidas pelas elites. – Sexto: o novo regime fiscal e o teto estabelecido para o gasto público são ataques diretos aos direitos cidadãos conquistados na Constituição de 1988. – Sétimo: a PEC 241 compromete as atividades fins do Estado como saúde, educação, moradia, assistência social e segurança. Além disso, ela não versa nada sobre os gastos absurdos com a manutenção das regalias da classe política brasileira e das elites. Além disso, trata-se de uma afronta ao Evangelho de Salvador Jesus Cristo, pois ao negar de comer, de beber, de vestir, de cuidar da saúde, de cuidar dos presos (segurança) – conforme está escrito em Mateus 25.35-41– nega-se a dignidade da vida abundante (Cf. João 10.10) aos mais pobres que são os que mais vão sofrer com as medidas cruéis e desumanas deste pacote de maldades que é a Proposta de Emenda Constitucional 241.
Javé, o Deus da nossa justiça (Jeremias 23.6), julgará aqueles que atentam contra a causa do Reino, maltratando e explorando o seu povo. Diante deste cenário não podemos nos omitir enquanto pessoas cristãs. Assim sendo, nos solidarizamos com a classe trabalhadora e com os movimentos populares contra o golpe que atinge a nação brasileira e apoiamos as lutas populares para a superação dessa situação injusta e sonegadora de direitos.

Pastoral Popular Luterana – PPL

Palmitos,SC, outubro de 2016

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Carta aberta do II Encontro Estadual Ecumênico do Paraná

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Posicionamento Pastoral – Crise Hídrica no ES

POSICIONAMENTO PASTORAL A RESPEITO DA CRISE HÍDRICA, ESTIAGEM E ENDIVIDAMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR NAS REGIÕES NORTE E NOROESTE DO ESPÍRITO SANTO

O norte e o noroeste do Estado do Espírito Santo enfrentam a maior seca de que se tem notícia nos últimos oitenta anos. Os rios estão secando. Nascentes que no passado nunca deixaram de verter água, transformaram-se em terra tórrida. Este quadro desolador exige dos ministros e da IECLB uma postura solidária, ética e esperançosa. Somente falar em crise não resolve.Concordamos e assumimos em repudiar, juntamente com todos os nossos parceiros e movimentos sociais, qualquer tipo de economia que promova a exclusão e a desigualdade, na qual o dinheiro reina em vez de servir. Somos contrários a ditames econômicos que destroem a criação de Deus. Sistemas excludentes, que promovem a desigualdade e ameaçam a vida, não podem ser suportados por trabalhadores, comunidades e pelo povo em geral.

Leia mais em http://www.luteranos.com.br/noticias/posicionamento-pastoral-a-respeito-da-crise-hidrica-estiagem-e-endividamento-da-agricultura-familiar-nas-regioes-norte-e-noroeste-do-espirito-santo