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Carta escrita pelo Pastor Professor Roberto E. Zwetsch
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Carta escrita pelo Pastor Professor Roberto E. Zwetsch
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Programação do Encontro:
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O Encontro Nacional da Pastoral Popular Luterana já tem data e local marcados para acontecer.
Sejam todas bem vindas e todos bem vindos!
O encontro será na Casa de Formação Nossa Senhora Medianeira, localizada na Av. 24 de Outubro, Bairro Nazaré, Medianeira, Paraná.
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Inscrições pelo link abaixo:
https://goo.gl/forms/n5NKxoG182yVyxKl1
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Nós mulheres reunidas no 6º encontro Intersinodal de Mulheres da Pastoral Popular Luterana (PPL), em Condor-RS, sob o tema “Mulher Campesina e Mulher na cidade: Direitos adquiridos e Direitos perdidos”, queremos nos manifestar nesse momento delicado, de crise política, ética, moral, social e econômica que afeta o povo brasileiro.
Sabemos que essa realidade atinge diretamente a nós mulheres. Por isso, como mulheres luteranas, acreditamos que, para superar esse momento, precisamos estar sempre alertas, unidas e em rede. Pois nossas conquistas dependem das nossas forças.
Toda a atenção é necessária. É preciso desacomodar-se, sair da zona de conforto e se incorporar à luta! Só assim conseguiremos construir políticas públicas que atendam os nossos anseios e necessidades e garantam vida digna para todas as pessoas, onde os direitos humanos sejam realmente respeitados. Isso não é uma questão meramente ideológica ou política, mas sim uma questão de sobrevivência.
Estamos conscientes que Deus nos criou a sua imagem e semelhança, sem distinção de gênero, etnia e classe social. Essa luta é uma continuidade da caminhada do povo de Deus de acordo com os relatos bíblicos, onde Ele conduziu o seu povo rumo a Terra Prometida, e ainda hoje continua nos guiando para um futuro de paz , igualdade e justiça.
Que Deus nos ajude a cumprir essa missão!
Que a rede que construímos seja intensificada!
Seguimos caminhando…
Condor, 18 de março de 2018.
Redigido por:
Pa. Louraini Christiman – pastora emérita
Ivone Bado Streicher – presidente do Conselho dos direitos da Mulher de Três de Maio-RS
Bárbara Luise Hiltel Venturini – coordenação CONAJE
Na sua recente passagem por Teutônia, conversamos com o Pastor Silvio Meincke sobre o significado do Natal.
P.: Pastor, o Natal se aproxima. Qual seu significado?
R.: Sobretudo alegria, porque o nascimento do menino Jesus é notícia boa para todos nós, conforme proclama o anjo: “Trago uma boa notícia a vocês, e ela será motivo de grande alegria. (Lucas 2.10).
P.: Qual é o motivo dessa alegria?
R.: A criança revela que nosso Deus é Deus bondoso. Esse é o motivo da alegria. O menino no estábulo veio em total humildade para revelar que Deus quer o bem para todos nós, sem exceção e sem excluir os mais humildes. Por isso mesmo, seu enviado nasce como ser humano – a vontade de Deus se faz um ser humano e mora entre nós – e chega bem perto de nós, como uma criança indefesa, para ser acolhida, comunicar-se conosco e trazer-nos essa boa notícia.
P.: E as luzes?
R.: As luzes que iluminam nossas casas e as ruas das nossas cidades, nessa época do ano, são símbolos. Elas querem dizer que o menino da manjedoura pode e quer iluminar o nosso caminho; querem dizer que seus ensinamentos, assim como uma lâmpada, podem e querem clarear nossos passos e nossos caminhos.
P.: Por que a estrebaria?
R.: Estrebaria, cheiro de estrume, moscas, pulgas, escuridão. O menino Jesus deitado no cocho de animais; a manjedoura como primeiro berço. Com isso, Deus quer mostrar que vai muito longe para estar próximo das pessoas; que vai até onde estão seus filhos e filhas excluídas e marginalizadas, desprezadas e esquecidas pela forma como organizamos nossa convivência social. Nascendo na estrebaria, Deus solidariza-se com as pessoas que não encontram lugar para viver, que não encontram pouso, que são mandadas embora.
P.: Queres dizer que encontramos Deus na periferia.
R.: Encontramos Deus em todos os lugares, no centro e na periferia. Ele revela seu amor a todas as pessoas, sem deixar ninguém de fora. Jesus, por exemplo, vai à casa do exator Zaqueu (Lucas 19.2-10) e recebe o centurião de Cafarnaum (Lucas (7.1-10). Mas ele vai, em primeiro lugar, aos que necessitam de apoio com maior urgência; ele visita, antes de tudo, as pessoas que nossa organização social empurra para a periferia e manda embora, assim como os hoteleiros mandaram seus pais embora. Lá está ele, entre as pessoas que são excluídas, assim como ele foi excluído. Essa é a mensagem de Natal: Organizem a convivência social de vocês de tal forma que os excluídos sejam incluídos, que os rejeitados sejam acolhidos, que os esquecidos sejam lembrados, até que ninguém mais precisa nascer na estrebaria.
P.: Como devemos entender a glória de Deus que o anjo vê e exalta na criança?
R.: A glória de Deus, que o anjo proclama, manifesta-se exatamente na humildade solidária da criança; na sua fragilidade de menino; na forma meiga como conquista os corações no lugar de impor sua vontade pela força; sua glória manifesta-se na solidariedade que cruza o fosso social entre centro e periferia e vai até os estábulos. Essa é sua glória. Se a sua glória fosse banhada em ouro e poder, em palácios e armas, ele não iria cruzar o fosso social da nossa sociedade dividida; ele não iria solidarizar-se com a gente que vive do lado onde estão os barracos.
P.: Uma palavra final, pastor Silvio.
R.: Celebro também este Natal, feliz e contente, porque mais uma vez, Deus me diz que chega tão perto de seus filhos e filhas que não esquece ninguém; que chega manso como uma criança para que todos e todas possam aproximar-se sem medo: “A Palavra de Deus se fez um ser humano e morou entre nós” – João 1.14 a. Alegro-me com a definição surpreendente de sua glória: “Vimos sua glória, cheia de amor e de verdade; foi essa glória que ele recebeu como filho que revela a vontade do Pai” – João 1.14b. Vou celebrar o Natal com alegria porque Deus – cuja glória reside na humildade da estrebaria e na solidariedade de Deus que chega perto – continua a bater na porta da minha casa, assim como bate na porta das pessoas que excluímos, marginalizamos e desprezamos. Vou abrir a
porta e, se ele me convidar, vou acompanhá-lo, mais uma vez, para visitar os doentes nos corredores dos nossos hospitais onde faltam leitos; vou com ele, mais uma vez, até os quilombolas que lutam pelo reconhecimento das terras onde moraram seus antecedentes quando fugiram da escravidão; vou protestar com ele, mais uma vez, na companhia dos indígenas que sempre são mandados embora e que sobram, sem lugar para viver, quando suas terras são roubadas; vou tomar chimarrão com ele, mais uma vez, na roda dos sem terras que resistem e lutam para não cair nas periferias miseráveis de nossas cidades. Vou atravessar com ele o largo fosso social que divide, desde sempre, a nossa sociedade injusta. Vou com ele para o outro lado do fosso, onde estão as pessoas mal vistas que nascem e vivem em lugares sem conforto e cheios de carências, assim como ele nasceu carente, na estrebaria, entre moscas e cheiro de estrume.
Silvio Meincke
Dezembro de 2017.
Uma garota fica grávida sem ter relação com um homem. É virgem e vai ser mãe. Depois de muitas dúvidas, pesadelos e mensagens de anjos, o carpinteiro José toma essa garota grávida como sua esposa. Também assume a paternidade da criança que vai nascer (Mateus 1.18-25).
Dizem os evangelistas que Maria engravida por decisão divina, pela força de Deus que chamamos Espírito Santo.
Sinceramente, a virgindade de Maria nunca nos interessou do ponto de vista biológico, do ponto de vista médico. Sempre sabíamos que os evangelistas que escreveram a história da Maria eram poetas, não
ginecologistas. Ao mesmo tempo, sempre levamos a mensagem dessa história muito a sério e perguntamos o que ela quer dizer-nos. Entendemos que ela expressa a visão de uma nova convivência das pessoas, de um relacionamento humano novo, que brota da fé; entendemos que ela expressa um relacionamento que não é determinado pelo domínio de uns sobre os outros, muito menos pelo domínio de homens sobre mulheres.
Na língua que os evangelistas falavam, o Espírito de Deus é do gênero feminino. Quando dizem que o menino da manjedoura nasce da força desse Espírito, eles querem dizer: NA ESTREBARIA DE BELÉM INICIA ALGO TOTALMENTE NOVO. Novo, porque corresponde à vontade de Deus. Trata-se de algo tão novo que não brota de uma força masculina, por exemplo, dos soldados romanos que dominavam a terra de Maria e José e que organizavam a sociedade pelo poder da espada. A história do Natal anuncia uma nova realidade, que não se baseia no poder dos patriarcas que apoiavam o mais forte que derrota o mais frágil; a história de Maria contesta o heroísmo dos vencedores que pisam nos vencidos. Por isso, Maria louva e canta: “Deus derruba dos seus tronos os reis poderosos e põe em altas posições os humildes” – Lucas 1. 52.
A virgindade de Maria desmente a ideia de que todas as estruturas devem ter um homem poderoso no comando, pois a sua gravidez não precisou de nenhum homem para gerar o que é novo.
Essa bela história de Natal também derrota a ideia de que cada estrutura familiar precisa ter um homem que fecunda e uma mulher que é fecundada. O relato dos evangelistas dá importância e lugar a José somente depois, quando Maria já está grávida, e quando é hora de cuidar carinhosamente dela e da criança que está por vir.
A forma como os evangelistas contam a história do Natal traz um conforto carinhoso às famílias que tem estrutura não convencional, não costumeira, não clássica; dá consolo às famílias que vivem uma estrutura familiar diferente do tripé clássico: Pai, mãe e filhos. Ela dá razão a uniões variadas, com ou sem filhos. O que importa é o carinho, o aconchego, o cuidado de uns pelos outros, o bem querer.
A história de Maria traz uma notícia animadora às pessoas que vivem o sonho de uma convivência social nova; uma convivência social que abdica da divisão entre vencedores e vencidos, entre dominadores e dominados, entre merecedores e não merecedores. Ela traz uma notícia animadora também para pessoas que vivem modelos familiares que não são os modelos tradicionais. Essas pessoas estão em boa companhia. Elas estão na companhia da família nada convencional que é constituída pela garota
Maria, que engravida fora do casamento, pelo carpinteiro José e pelo menino Jesus.
Silvio Meincke
Maike S. Ulrich
Dezembro de 2017
Prédica feita pela PPL EST no Encontro Nacional 2017 da PPL.
Que a Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Amor de Deus, Pai e Mãe, e a Comunhão do Espírito Santo seja com todos e todas vocês. Amém!
Prezada Pastoral Popular Luterana dos quatro cantos do Brasil,
Este é o mês da Pátria, mas talvez haja muito pouco a se comemorar.
O talvez maior crime ambiental do Brasil, o assassinato de um rio, por conta de um sistema que não prioriza segurança e responsabilidade, mas sim o lucro, passará em branco. Ao mesmo tempo, a Amazônia será leiloada para a extração de seu minério, sob todas as consequências ambientais disso decorrentes, construção de barragens e o apodrecimento da floresta sob as águas enclausuradas, o desmatamento para o plantio de soja e a criação de gado, um gado muito espaçoso, para o churrasco, um pouco dele nos nossos domingos, a maioria para a China e Rússia. Na lógica atual do Brasil, um boi vale mais que uma árvore e o ecossistema que ela sustenta. Se tratando de povos indígenas ou povos tradicionais da floresta, então nem se fala, um boi vale mais que uma aldeia inteira.
Os direitos trabalhistas e a previdência também é leiloada e com ela toda qualidade de vida e a chance de futuro do brasileiro e da brasileira, no mesmo momento que dívidas bilionárias, trilionárias são perdoadas de empresas sonegadoras.
Salários de professores e professoras são pagos às migalhas e bolsas são cortadas sem dó nem piedade, em um país que se prioriza promotores e juízes a cientistas e intelectuais; prioridade essa que nem ao mesmo se reverte em mais justiça, pois temos um sistema judiciário lento e de uma lei tão morta como a que Jesus e Paulo criticavam: há casuísmo demais, lei para tudo, para condenar e para absolver – depende a cara do freguês.
O que temos, então, para comemorar neste mês da Pátria? Sim, o que temos para comemorar?
O festival de injustiça dos últimos tempos é digno de uma tragédia grega. Deputados e senadores assumem a tarefa de juízes, mas o fazem sob clara e evidente perspectiva política, não julgando fatos, crimes, provas, mas governabilidade, ou seja, aliança política. Mesmo juízes profissionais se deixam levar pela maré política do Brasil, onde todo fato, toda verdade, todo princípio absoluto de direito, da constituição, da ética, se esvai no subjetivismo da “lei para os inimigos, não para os amigos”. Subjetivismo esse, aliás, que está presente em todos os ambientes do Brasil, seja na macropolítica, seja mesmo em nossas comunidades e instituições: o amigo não se julga, e quando se julga, o é com muita misericórdia; mas o inimigo, a este ergue a clava forte. Se o amigo não se julga, o parente recebe toda proteção jurídica possível. Quanto ao negro, o pobre, o índio, o travesti, quem poderá defender?
Proponho uma nova analogia teológica. Quando quisermos entender o binômio Lei e Evangelho, expliquemos assim: Lei é aquilo que vale para pretos, pobres e putas; Evangelho o que vale para amigos e parentes. Não preciso dizer que esta analogia apontará para a catástrofe teológica que vivemos atualmente e que tende a se estender, tendo em vista a apatia generalizada, inclusive em espaços e indivíduos que deveriam estar entre os mais indignados. Como falar em justiça divina no nosso contexto? Como dizer “outros 500” sem uma profunda inocência ou hipocrisia?
Certamente um conceito que a teologia como um todo, mas especialmente a teologia da libertação terá que aprender a falar e a ressignificar é o conceito de justiça. Seria justiça divina o aparato de poder, aparato punitivo, de manutenção do status quo, ferramenta dos poderosos sobre os fracos, assim como é a justiça humana? Nesse caso, Deus seria como um ídolo que esmaga seus devotos, um ídolo diante do qual levamos nossos sacrifícios para serem imolados, sangrados e queimados. Seria a justiça divina o instrumento de vigilância contínua, espionagem, perseguição, e exposição pública das fraquezas mais íntimas? Bom, esse Deus agrada muito aos moralistas; agrada tê-lo de olhos sobre os outros enquanto desvia os olhos de nós mesmos. Seria, então, a justiça divina um monumento pesado, das toneladas de papeis imóveis, dos casuísmos farisaicos e burocráticos da linguagem forense dos dogmatas mais fervorosos? Não foge muito à realidade também. Vocês devem ter percebido que estas três concepções de justiça divina são as mais em voga na teologia, o que não é nenhuma surpresa quando nos atentamos para o contexto em que nós vivemos: estão completamente encarnadas na vida real.
Mas diferente dos dias de hoje em que a justiça é a invocação dos poderosos que fazem uso dela como arma “civilizada” de domínio e força para conseguirem o que querem, a justiça da Bíblia, particularmente nos Profetas e nos Salmos, é a invocação do injustiçado, do perseguido, do atormentado. E diferente dos dias de hoje em que o juiz é o representante das classes dominantes, o juiz da Bíblia é o Javé do deserto e das montanhas, que desce e peleja por seu povo.
Justiça na Bíblia é diferente da justiça corriqueira de nossos dias, justiça é sinônimo de vingança, ou vice-versa. A dificuldade da teologia em lidar com o clamor por vingança dos profetas, do salmista, dos mártires em apocalipse é a dificuldade do teólogo de gabinete em sentir na própria pele a perseguição que o povo pobre do Antigo e do Novo Testamento sofreu, é a dificuldade em compreender na própria carne as injustiças diárias que os povos indígenas, quilombolas, os pequenos agricultores, os favelados, os subempregados, as mulheres, os homossexuais são afrontados. Estes e estas, assim como o profeta, clamam: vinga-me, Senhor! Quem não vive na pele, quem não sente na alma, não pode entender o conceito de justiça e vingança na Bíblia.
Quando se trata de justiça divina, não são teólogos ou teólogas que têm a ensinar ao povo, mas o movimento é o oposto: nós que temos que aprender com o povo pobre de Deus que diariamente sofre a afronta dos poderosos, o povo que sofre a afronta de quem usurpa a qualidade de fazer justiça de Deus, o povo que permanece fiel à justiça que Javé promete e realiza. Quem usurpa o poder da justiça para fazer injustiça, coloca-se no lugar de Deus. Amar a Deus, portanto, é não se submeter a esta usurpação, não se sujeitar à injustiça, não se deixar ser cooptado pela injustiça, mas levantar-se contra os usurpadores, ter os olhos fitos em Deus e sua justiça, e clamar tão somente por ela, pois só ela lhe pode fazer justiça.
Quem clama por justiça não pode ser instrumento de injustiça, por isso os mandamentos iniciam com a memória do Êxodo. A vingança clamada não é a inversão da injustiça, como se tem medo, mas é a restauração da justiça, é a correção da injustiça; não é veículo de ódio, mas contra o ódio. O clamor pela justiça é o clamor daquele e daquele que não entra no jogo de força e injustiça. É o clamor daquele e daquele que não quer usar das ferramentas disponíveis no jogo, mas apela que Deus rompa o jogo. O clamor pela justiça e pela vingança de Deus é o clamor de indignação, ou seja, da ira que não é ferramenta do poder, mas ferramenta contra o poder. Este clamor, portanto, é clamor solitário e abandonado, é clamor longe dos centros de poder, dos círculos de influência: é clamor dos excluídos, dos de fora do centro.
Engana-se, então, quem pensa que é clamor de vitoriosos: é clamor de derrotados. Pois essa indignação, revolta, rebeldia, tem tudo pra não levar a lugar nenhum. Ela é a indignação de quem já perdeu o jogo e não de quem pode jogar. Ela é cruz! O derrotado e a derrotada, que é derrotado e derrotada por se negar a fazer o mesmo jogo de injustiça, de corrupção, de suborno, clama a Deus: Até quando, Senhor? Faze-me justiça, Senhor!
A este clamor, Deus responde com seu Evangelho: Volta-te a mim. Fite os olhos em mim. Espera somente em mim. Aparta-te do vil. E então serás como a minha boca. Será como a minha boca para anúncio de Evangelho, anúncio de justiça num mundo de injustiça, anúncio de amor num mundo de ódio, anúncio de paz num mundo de violência, anúncio de esperança num mundo de angústia, tormento e perseguição. A justiça de Deus não é ofertada como indenização particular, mas sempre como serviço e como missão. Deus não me faz justiça para meu gozo individual, mas sempre faz justiça como inauguração de novas relações com o próximo e consigo. Justiça de Deus é dádiva a ser compartilhada. Deus não julga separadamente, pela cara do freguês. Todo juízo de Deus é epifania de seu Reino e seu reinado.
De fato, esta fé e esperança não leva a lugar nenhum. Mas o lugar nenhum para qual o profetismo leva é assumido como lugar de esperança: o não-lugar, utopia. É a negação de todos os lugares de fronteiras e limites delimitados, de posse alegada, escriturados. A esperança não se agarra a algum lugar, mas ao não-lugar. Nós somos colocados como muros de bronze deste não-lugar que não possui fronteiras, pois nós somos suas fronteiras, pois vivemos de esperança, nós que vivemos ambiguamente entre o tormento e a justiça, entre o pecado e a graça, entre a cruz e a ressurreição: transição, fronteira, muro, ponte, porta, caminho, boca que se fecha e que se abre.
Faze-me justiça, Senhor! E a justiça que Deus nos faz é contra todo senso de justiça própria, toda autojustificação, toda alegação próprio de justiça, santidade, ortodoxia, ortopraxia. É justiça que ensina humildade, é justiça que ensina gratuidade. Podíamos modificar levemente o hino nacional para ele caber nessa nova noção de justiça que Deus faz irromper entre nós: O penhor da igualdade é conquistado com mais que braços fortes, com abraços fortes, com abraços que compartilham a dor e o gozo, o tormento e a esperança, a angústia e a coragem. Que Deus nos coloque como muros de bronze que sustentam a partilha e abriga a Igreja militante que suporta os tormentos da injustiça, muros pichados com o testemunho de nossa indignação.
Que a graça de Deus nos inspire a novas relações de dignificação da vida, respeito à diversidade e acolhimento das dificuldades, para que os clamores por justiça e livramento possam dar lugar a cânticos de esperança. Que o lugar nenhum que nossa luta leva continue muito forte e vívido em nossos sonhos, que sejam semeados fartamente amor e esperança. E que a paz de Deus que excede todo nosso entendimento nos livre e nos guarde, agora e sempre. Amém!
A Pastoral Popular Luterana estará realizando nos dias 07 a 09 de setembro o seu encontro seguido da assembléia.