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Cartas Pastorais

Carta Pastoral da PPL em tempos de Covid-19.

PASTORAL POPULAR LUTERANA – PPL
IGREJA EVANGÉLICA DE CONFISSÃO LUTERANA NO BRASIL

Irmãos e irmãs da Pastoral Popular Luterana, parceiros e parceiras de caminhada que, a partir da fé, semeiam sementes de esperança:
Vivemos um período de grandes desafios impostos pela pandemia do Covid-19, o qual tem ceifado vidas por todo o mundo. Pouco se sabe sobre esse novo vírus. Ele tem um alto índice de contágio e por isso nossa única forma de “resistência” é o isolamento e o distanciamento social, recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e seguido pelos membros da IECLB, conforme recomendação da Presidência, Pastores e Pastoras Sinodais. O distanciamento social é a única forma de preservar a nossa vida e a vida das pessoas mais frágeis. Com isso, o mundo convocou uma “quarentena” que coincide com o tempo da Quaresma. Quaresma é o tempo de reflexão para o qual nunca tivemos tempo. O trabalho, os compromissos e as opções de lazer sempre ocuparam o tempo de reflexão que a Quaresma exige. Com a quarentena, muitas pessoas estão podendo fazer essa reflexão. Como Pastoral Popular Luterana queremos lembrar alguns pontos importantes para reflexão.
O vírus do Covid-19 é particularmente letal para grupos mais frágeis da nossa sociedade: idosos e idosas, pessoas com quadro de saúde fragilizado e as pobres que não têm a opção do isolamento, pressionadas por uma economia e política que não promove a vida, mas impõe o sacrifício de vidas em nome das exigências do mercado. Pessoas jovens e fortes, que são consideradas fora do “grupo de risco”, podem fazer pouco caso da pandemia? Essa é uma atitude cristã? Não. Aqui convém lembrar o conselho do apóstolo Paulo, os “fortes” devem cuidar dos “fracos” (Romanos 15.1). Há um desvio e uma banalização da espiritualidade e fé cristã quando se afirma que nada poderá acontecer se a pessoa tiver fé em Deus, porque Deus está no comando e Ele protegerá as pessoas fiéis, como se o vírus não pudesse alcançar e contagiar quem tem fé. A fé não traz imunidade. A fé nos move ao cuidado pessoal e ao cuidado extremo aos outros e às outras.
Estamos diante de novo tempo. Ninguém escapará: empresas, empregadas, empregados, pessoas excluídas do sistema e a sociedade em geral. Diante disso, somos chamados e chamadas a responder ao Evangelho, colocando em pratica ações solidárias com os nossos dons, bens e dinheiro. Porém, também somos provocados e provocadas a repensar a vida e a economia, inspirados e inspiradas na palavra do profeta: “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Amós 5.24).
A contradição que a pandemia do Covid-19 revela é mais profunda que qualquer polarização política abstrata: é concreta e prática. Trata-se da contradição entre a vida e o dinheiro, entre uma economia que gera vida, bem-estar, que alimenta, e uma economia que só pensa no lucro, que explora as pessoas e a natureza e que cria desigualdade. A contradição da política que, ao invés de preservar a vida e cuidar dos mais fracos e das mais fracas, incita a lei do mais forte, colocando a vida sob ameaça. Para agradar os poderosos e o seu dinheiro, não permite a orientação a partir do conhecimento e das ciências, mas age a partir do desejo, da ganância e da soberba. Jesus afirmou que não se pode seguir a dois senhores, ao Deus da vida e ao dinheiro (Mateus 6.24). Diante dessa contradição precisamos fazer uma escolha. Nenhuma neutralidade é possível.
Tendo em vista que compartilhamos da mesma casa comum com toda a humanidade e com toda a criação, precisamos nos perguntar pelas pessoas mais fragilizadas. Esta é a pergunta que nós, da Teologia da Libertação, sempre nos fizemos. Nesse sentido, é momento de repensar nossas atitudes e a sociedade como um todo. Onde a exploração do ser humano pelo ser humano é a regra, precisamos preparar caminho para uma nova sociedade pautada pelo amor. Nela, a economia precisará estar a serviço da vida e do bem comum.
Por último, o Covid-19 alterou nossos hábitos. Aquele encontro com o próximo e a próxima para o chimarrão, o café ou o tererê, o aperto de mão e o abraço forem deixados momentaneamente para depois. Sabemos que todos esses símbolos de comunhão fazem parte do nosso cotidiano e da nossa experiência de fé como pessoas cristãs, luteranas e grupos da PPL. Estamos convidados e convidadas a viver essa comunhão temporariamente com ferramentas digitais e através da oração. É importante que lembremos que não estamos sós. O sentimento de solidão pode ameaçar a nossa esperança. Quando nos vemos sozinhos ou sozinhas nadando contra a maré, podemos nos sentir vencidos e vencidas por ela. Queremos, portanto, como PPL, lembra-lo e lembra-la que você não está sozinho, sozinha. Há sementes de esperança por toda a parte. Isso tudo vai passar e aqueles abraços e encontros deixados para depois terão um significado mais forte e proveitoso quando ninguém mais correr perigo de contágio. A Páscoa nos lembra que a vida renasce, nossas vidas também renascerão depois desse tempo. Por enquanto vamos deixar a Páscoa se aproximar e, cheios de esperança, ensaiar um tempo novo.
01 de abril de 2020.
Coordenação Nacional da PPL.

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