Categorias
Cartas Pastorais

A RIQUEZA ESTÁ NA DIVERSIDADE

Olho para a mata e vejo seu verde. Chego mais perto, olho novamente, e observo as muitas tonalidades do verde: Vejo a variedade entre o verde que é quase amarelo e o verde que é quase azul. Dou alguns passos e entro na mata. Constato que cada espécie de árvore tem folhas diferentes da outra espécie. Depois, caminho pela mata e descubro que a diversidade de folhas, flores e frutas atrai uma variedade infinita de espécies da fauna e da flora. Fossem todas as árvores iguais, de uma só espécie, e haveria menos vida. Concluo que a diversidade é rica e a uniformidade é pobre.
Médicos e nutricionistas ensinam que nossos pratos são tanto mais saudáveis quanto mais coloridos, porque cada alimento tem seu valor nutritivo próprio. Se nossos alimentos fossem sempre brancos ou sempre marrons, nosso corpo não encontraria a diversidade que necessita para alimentar-se bem. Portanto, nossa mesa é rica quando nossos alimentos são diversificados; e nossa mesa é pobre quando nossos alimentos não variam.
Vejo lavouras de uma única espécie de plantas, até onde minha vista alcança. A manipulação genética e os venenos possibilitam esse tipo de plantação uniforme. Essas lavouras não têm as flores que as abelhas procuram; que as borboletas querem visitar. Essas plantações não acolhem libélulas, nem convidam besouros, nem apreciam o canto dos pássaros e, nas entressafras, com o solo exposto, o sol queima todas as formas de vida. Lavouras de monocultura fazem guerra contra a natureza, porque insistem na uniformidade quando a natureza insiste na diversidade; porque a uniformidade destrói a vida, mas a diversidade promove a vida; porque a uniformidade exclui, mas a diversidade inclui.
Admito: O lucro é necessário. Sem lucro, não haverá produção de alimentos suficientes. Admito também que é necessário criar manejos, instrumentos, e recursos técnicos que facilitam o trabalho duro de arar a terra, de plantar a semente e de colher o alimento. Não por último, admito que as plantas indesejadas devem ser combatidas para evitar que sufoquem as culturas de quem planta e precisa colher. Mas cada planta e cada ser vivo tem sua função no equilíbrio da natureza, e cada espécie tem seu lugar na cadeia de interdependência das múltiplas formas de vida. Por isso, cada espécie eliminada com venenos deixará uma lacuna e fará falta. Além disso, os grandes lucros usufruídos por poucos donos de monoculturas gigantescas não enriquecem a totalidade do povo; e os silos cheios de poucos proprietários não alimentam os estômagos vazios dos muitos famintos: Quando os lucros decidem o que se produz (trigo, soja, milho, carne, algodão, etanol, eucalipto); quando o mercado decide sobre os lucros (o que rende mais no momento); quando os lucros decidem sobre o destino da colheita (exportação ou a mesa das famílias brasileiras).
De tempos em tempos surgem governantes que enaltecem a uniformidade de pessoas e de raças, de culturas e de confissões religiosas, de expressões artísticas e de formas de afeto: Combatem a diversidade, excluem os diferentes, desprezam as minorias, rejeitam o diálogo entre formas de vida e de opiniões diferentes. Hitler queria uma raça ariana pura. Getúlio, durante o Estado Novo, mandava prender quem falasse uma língua que não fosse o português. Nas décadas de 1960/70 permitia-se uma verdade só e somente um passo certo. Mas a vida do povo brasileiro é colorida. Ela é indígena e negra; é luso-brasileira e mestiça, é ítalo brasileira e teuto brasileira com todas as demais variações; é feminina e masculina; é heteroafetiva e homoafetiva. A vida foge da uniformidade porque é mais ampla, mais bela, mais livre, mais variada e mais colorida. As pessoas são diferentes umas das outras, mas elas são todas iguais em seus direitos e seus deveres, e cada uma tem o direito às condições que necessita para desenvolver plenamente sua personalidade e seu potencial. É a diversidade de um povo que constitui sua riqueza, desde que haja projetos de integração que evitam a exclusão. Mais cedo ou mais tarde, a torrente indomável da diversidade romperá as represas da uniformização, porque o colorido enriquece, mas a uniformidade empobrece. E os limites são a Constituição Federal, o Código Penal e o Estado de Direito, jamais o arbítrio deste ou daquele governante.
Silvio Meincke.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *