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Cartas Pastorais

Carta Pastoral 03/2020 – Em tempos da Covid-19

Irmãs e irmãos das comunidades de fé,
Amigas e amigos da caminhada,

“E disseram um ao outro: Porventura não nos ardia o coração,
quando ele pelo caminho nos falava,
quando nos expunha as Escrituras?”
Lucas 24.31
Estamos há mais de um mês nesses estranhos dias de isolamento social, com muitas pessoas em quarentena, enquanto outras infelizmente ainda não entenderam sua importância. Quarentena é quando a pessoa ou um grupo de pessoas está sob suspeita de haver contraído o vírus e passa a estar em período de observação afim de monitorar se irá positivar para o COVID-19 ou não. Com o número crescente de casos no país, é extremamente importante aceitar o distanciamento social e os cuidados de higiene para não entrar em quarentena, evitar contrair a doença e disseminá-la por descuido.
Se em 2019 o conselho era desligar-se das telas de celulares e computadores, agora é a virtualidade que nos conecta a todos e tudo, possibilitando contatos para além do isolamento. Passou a Semana da Paixão, passou o Domingo de Páscoa, mas o isolamento social ainda vai continuar, e perguntamos: até quando?
Nas cartas anteriores a coordenação da Pastoral Popular Luterana- PPL refletiu sobre como entender esse tempo que irrompeu e o que fazer? De fato, não há alternativa: é preciso ouvir o que dizem as autoridades de saúde, a Organização Mundial da Saúde, o que diz a ciência médica e sanitária. E não “dar ouvido” às notícias falsas que entram em nossos celulares, algumas vezes por meio de “mensagens amigas”. Chamamos atenção para a seriedade, também aos efeitos deste vírus, que destrói confiança e semeia discórdia. É preciso sempre se perguntar pelo fundamento daquilo que nos chega. Vale a pena pesquisar o assunto na internet para uma busca sobre a notícia, para averiguar a veracidade do que nos chega, às vezes, sem que tenhamos dado autorização.
Estamos vivendo o tempo pós crucificação e pós Ressurreição, a Páscoa da libertação. No tempo litúrgico das igrejas ecumênicas, é o período em que Jesus começa a aparecer para discípulos e discípulas, mostrando a veracidade da notícia que as mulheres, em primeira mão, divulgaram no Domingo de Páscoa: “Ele vive! Ele Ressuscitou!” (Lucas 24. 1-12). Não era fake news. Não era notícia falsa, como os discípulos pensaram a princípio: “Tais palavras lhes pareciam como delírio, e não acreditaram nelas” (Lucas 24.11).
Em quem acreditar? Em muitos momentos podemos nos sentir perdidos como o casal que tomou o caminho para Emaús, Cléopas e sua esposa, desanimados com o que havia acontecido com seu amado mestre Jesus. Eles haviam feito planos, seguiram aquele que era para ser o grande transformador de vidas, o libertador do seu povo, e, de repente, tudo mudou, chega a morte violenta, a humilhação, a derrota. Completamente frustrados, sem ânimo ou forças pra continuar, o casal volta para sua terra e se põe a desfiar sua frustração radical: “Nós esperávamos que fosse ele quem havia de redimir a Israel; mas, depois de tudo isto, é já este o terceiro dia desde que tais coisas sucederam” (Lucas 24.21).
Enquanto ruminavam sua desilusão, Jesus se aproximou deles, estava ali, ao seu lado, caminhando junto e escutando suas aflições, perguntando, procurando compreendê-los, mas ao mesmo tempo fazendo com que refletissem à luz das Escrituras. Nem Cléopas, nem a esposa o identificam, estão por demais imersos em suas angústias e luto. Quando chegaram a Emaús, Cléopas e a esposa convidam o peregrino, aquele caminhante que os acompanhara pelo caminho para entrar e cear com eles. Não haviam ainda percebido quem ele era. Ora, uma parte importante dos ensinamentos do mestre eles haviam guardado com carinho: a hospitalidade. E foi este aprendizado que lhes ajudou a “abrir os olhos” naquela noite inesquecível. Foi somente no partir do pão, quando Jesus deu graças, que eles o reconheceram. Aí lembraram que, durante a caminhada, os seus corações já haviam ficado aquecidos durante a conversa, mas sem o entendimento pleno. O encontro com Jesus Ressuscitado fez com que o casal decidisse retornar a Jerusalém. Todo o medo e a frustração que sentiam se desvaneceram, criaram coragem e partiram de volta para a comunidade dos irmãos e irmãs. Foram resolutos se reunir com os demais seguidores e seguidoras de Jesus e, conversando, conseguiram se animar, cada qual contando sobre as notícias da ressurreição. Então era verdade!
A recomendação, portanto, ainda vale para nós hoje: conversar sobre o que aflige, o que nos causa tristeza, dor e luto. Usar, sim, a tecnologia para nos conectar e fazer boas trocas, conversar para reacender as esperanças, animar-nos mutuamente. Em casa, dar atenção especial para as crianças, jovens e as pessoas idosas. Amorosidade – esta talvez seja a palavra que pode nos ajudar muito nesses dias. É com solidariedade e verdadeira comunhão que seremos capazes de sobreviver ao isolamento social e aos efeitos deste sobre nossa vida financeira e profissional.
Na comunhão do diálogo e das trocas surgem as boas notícias que devem ter mais força que as más e falsas notícias. Depois de tudo, não será mais possível voltar a ser como antes, porque estaremos para sempre marcados pelo ano em que um vírus, incapaz de ser abatido por mísseis, colocou de joelhos nações e questionou valores, sonhos, planos, estruturas familiares e relações. Não seremos mais os mesmos. Não podemos querer que “tudo volte a ser como antes”. Depois de tudo o que a pandemia nos está trazendo, devemos ser melhores. Temos que tentar! Que o Deus da Vida nos ajude!
13 de abril de 2020.

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